O Setembro Amarelo coloca o tema suicídio em pauta e isto é extremamente relevante, pois nós temos várias campanhas com outras temáticas e todas elas falam abertamente sobre seus temas. O machismo se combate falando e debatendo sobre o tema, o assédio também, as doenças cardíacas, o câncer, a importância da doação de sangue – em todas as campanhas nós falamos sobre seus respectivos temas, por que no Setembro Amarelo não podemos falar sobre o suicídio?
É porque o assunto ainda é um tabu. Mas os tabus constroem muros e a informação, quando é passada de forma correta, pode, sim, salvar vidas, pois é isso que as pesquisas mostram. E é preciso, sim, falar abertamente, pois a cada 40 segundos uma pessoa morre por suicídio. Este número é o número NOTIFICADO. Quantas pessoas morrem por acidente em altíssima velocidade ou por se colocarem em situações de alto risco e que nunca saberemos se foi ou não um suicídio? Podemos ter de 10 a 20 vezes mais de TENTATIVAS do que o número consumado. Podemos ter 20 Milhões de pessoas tentando. E é por isto eu este tema se torna tão relevante.
Infelizmente, a campanha Setembro Amarelo em nosso país está fracassando. 83% dos países no mundo têm as suas taxas de suicídio diminuindo. 17% dos países têm as suas taxas de suicídio aumentando. O Brasil está entre os 17% dos países em que estes índices aumentam. A boa notícia é que, se em muitos países estas taxas estão diminuindo, é sinal de que existe saída e há sim o que fazer, mas para isso é preciso começar quebrando os tabus como, por exemplo, de que não se deve falar sobre o tema ou de que psicólogos e psiquiatras são coisas para malucos. Isto não é verdade. Tanto o psicólogo quanto o psiquiatra têm papel fundamental na qualidade de vidas das pessoas e é possível, sim, buscar ajuda e viver com menos medo, com menos ansiedade, é possível dormir melhor, é possível melhorar a autoestima, se sabotar menos, cuidar da depressão, entre tantas outras coisas.
Para fazermos um Setembro Amarelo mais efetivo, é preciso entender que o ser humano é complexo, assim como o suicídio também é. Primeiro, precisamos entender que o ser humano é um ser biopsicossocioecoespiritual e também tecnológico. Portanto, precisamos olhar para todas as coisas que atravessam os seres humanos. Não adianta olhar apenas para um lado. Se não olharmos para as emoções, os sentimentos, pobreza, fome, os tabus, os abusos, a violência, o preconceito, para os problemas com álcool e drogas, para a falta de políticas públicas, entre tantas outras coisas, não conseguimos combater o suicídio.
Não podemos fazer uma campanha generalista porque o suicídio é diferente entre homens, mulheres, e é preciso considerar outros fatores como localidades e faixa etária. Também não podemos fazer uma campanha que tem como slogan “falar é a melhor solução” se não tem ninguém para ouvir estas pessoas que estão em sofrimento. Setembro Amarelo efetivo se faz também com políticas públicas, é o que os países que têm estas taxas de suicídio diminuindo estão fazendo. Setembro Amarelo também se faz levando ao conhecimento da população quais são os fatores de risco e quais são os fatores de proteção.
Fatores de risco: trauma, como abuso físico e sexual, perda de emprego, nível de educação baixos, sentimentos de baixa auto estime e desesperança, depressão, abuso de álcool e substâncias. E eu te pergunto, em nosso país limitamos o acesso ao álcool aos adolescentes ou aqui facilitamos este acesso?
Fatores de proteção: autoestima elevada, bom suporte familiar, laços sociais estabelecidos, vida social e lazer, estar empregado, ausência de doença mental. O Brasil é um dos países mais depressivos e ansiosos do mundo, como ter vida social e lazer em lugares em que há violência ou desemprego?
Não poderia finalizar este tema falando da importância do CVV, Centro de Valorização da Vida, que presta apoio emocional e prevenção ao suicídio. Se estiver sentindo um sentimento de desesperança, desamparo, saiba que o CVV pode te ajudar. A ligação é gratuita através do número 188 e o sigilo é garantido. As faculdades de psicologia fazem atendimento gratuito para população e você também pode procurar os CAPS.
Toda vida importa!