A mensagem do Papa Francisco para o 32º Dia mundial do enfermo de 2024, inspira-se na frase de Gen. 2,18: “Não é conveniente que o homem esteja só”. Serve-se desta expressão bíblica da Criação para fundamentar a antropologia cristã centrada na imagem do Deus Trindade, fonte e raiz de relacionamentos. Retoma a traumática experiência da pandemia, onde milhares de vítimas da COVID viveram a situação da solidão e do isolamento, acrescentando ao seu padecimento o distanciamento e a perda de contatos humanos. Mas também os profissionais da saúde experimentaram a seu modo e na sua extenuante missão, o ficar confinado em jornadas estafantes e lugares fechados por semanas inteiras.
No atual momento que vive a humanidade, as guerras, catástrofes climáticas e perseguições obrigam ao desenraizamento e solidão à milhões de pessoas. Mas não só nestas realidades trágicas acontece a fragmentação e o isolamento; pensemos nos idosos, nos portadores de deficiência, nos moradores de rua, nas pessoas com doenças mentais que vivem no esquecimento e muitas vezes no abandono, e dos nascituros que encerram o ciclo dos que “já não servem mais e dos que ainda não servem”, para o olhar frio do mercado.
Por isso, o Papa reafirma o chamado da Criação, a sermos humanos, isto é, a viver em comunhão e fraternidade, a realizarmo-nos com laços de ternura e compaixão amorosa. Nesse sentido, o primeiro cuidado com os doentes deve ser acolhê-los e tratá-los bem, sentindo-se amados e valorizados, pois o amor incondicional é agente de cura e humanização. Um hospital, geriatria, casa de saúde ou uma UPA (Unidade Básica de Atendimento) devem oferecer sempre, além do tratamento profissional e terapêutico, o relacionamento caloroso e profundamente atento a pessoa e necessidades do doente.
Por sua parte, o enfermo, afirma o Papa, não deve sentir vergonha de precisar da ajuda e cuidado dos agentes da saúde, como também não se sentir um peso ou alguém que está incomodando. Entender que assumir a fragilidade e a necessidade de diminuir o ritmo e ser submetido a um tratamento não é abrir mão de sua dignidade e da preciosidade da sua vida, mas reentrar em si mesmo para recuperar a inteireza.
Toda a Igreja e todos os fiéis estão chamados a tornarem-se mais próximos e amigos dos doentes, estabelecendo um relacionamento gratuito, amoroso e compassivo para com eles, pois os encontraremos sempre no Coração de Cristo e da Igreja. Deixemos de lado e superemos a Cultura individualista do descarte e da indiferença, para viver e testemunhar a Cultura do amor, comunhão e partilha, da ternura e da solidariedade com os que sofrem e estão à margem da vida.
Deus seja louvado!