No meu primeiro mandato como vereador em Campos dos Goytacazes, fiz inúmeras reuniões domiciliares por todo o município. Em várias delas, ao final, vários moradores me chamavam para um conversa no reservado e me perguntaram se eu podia lhes presentear com um vaso sanitário ou com material para a construção de um banheiro.
Claro que, mesmo sensibilizado, dizia que não caberia a mim essa função, pois nunca foi incumbência de um parlamentar custear obras para qualquer pessoa.
Pois bem! Trago para vocês a OMB (Organização Mundial do Banheiro). Inacreditável, mas ela existe desde 2021 e foi criada por representantes de 190 organizações de 56 países, reunidos em um evento sobre saneamento básico ocorrido em Cingapura.
A missão da Organização Mundial do Banheiro é promover a construção de banheiros públicos. Quem lê de pronto acha meio ridículo tal organização, partindo do princípio de que estamos falando de algo, a princípio, básico, certo? Errado!
Queria perguntar a vocês, caros leitores: os lixeiros que percorrem nossas cidades possuem banheiros em pontos específicos pelas ruas? Os motoristas de táxi? Perto de seus respectivos pontos existe algum banheiro? Os ambulantes, carteiros, policiais, seguranças, operários de obras públicas e os cidadãos em situação de rua? Na imensa maioria, nenhum deles tem esse direito à disposição.
Assim como nos lares em que visitei, nas ruas, o problema também é crônico e passa, na maioria das vezes, despercebido por todos, pessoas comuns ou governantes.
Segundo o site Trata Brasil, há mais de cinco milhões de pessoas sem banheiro em suas residências. A região Nordeste do país é a que apresenta o maior índice de precariedade.
O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana previsto na Constituição da Federal pode ser entendido como a garantia das necessidades vitais de cada indivíduo e não restam dúvidas de que o banheiro é um local onde a dignidade necessita se fazer presente.
Para os mais abastados e sem qualquer imersão no lado B da sociedade, o tema trazido hoje pode parecer algo insignificante e até bizarro. Contudo, que tal você, caro leitor, experimentar viver por apenas um dia sem ter o direito de realizar suas necessidades fisiológicas em local apropriado e higienizado?
Fica a dica! O que para você é natural, como abrir os olhos pela manhã, para milhões, não ter um banheiro em casa ou ao alcance dos seus respectivos pontos públicos de trabalho é desesperador.